A saúde mental tem sido exposta, principalmente aqui nas redes, como um produto. Marketeiros digitais bombardeiam tentando ensinar estratégias de como se posicionar, mostrar para a audiência a importância do seu trabalho, e o mais importante: como agregar preço às sessões.
Mas existe um ponto que não está no script seguido por essas estratégias: existe um valor a ser pago em análise/psicoterapia, que nem todos têm condições/estão dispostos a pagar. É claro que a questão financeira aparece como um marcador importante, e eu não quero aqui desconsiderá-la, mas como explicar, por exemplo, atendimentos gratuitos que não apresentam aderência?
E esse valor, portanto, não está ligado aos fatores socioeconômicos e de condições financeiras. Esse valor, às vezes, é muito alto, e está relacionado a estar disposto a falar de si, e de fato se escutar.
A estar disposto para revisitar os traumas, as faltas, as coisas que te fizeram mal, e porventura, reconhecer as coisas que você também fez de mal. É ter que relembrar de fatos que te feriram, das pessoas, dos lugares, das situações, dos abandonos, das carências, da pobreza afetiva ou material. É estar disposto a olhar para o que você pode fazer, com tudo isso que fizeram com você. É poder pensar qual lugar que você tem ocupado em toda a sua história. Esse valor faz uma ligação direta com o questionar-se, responsabilizar-se. Romper as resistências. O que, em alguns momentos, poderá causar dor.
Fazer análise custa caro, e esse valor é pago com o corpo, com a alma, e em alguma instância, também com o dinheiro.
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