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Foto do escritorPsicóloga Fernanda Moreira

Quais os desafios de ser uma criança negra no Brasil?

Os desafios de ser uma criança negra no Brasil, começam antes mesmo do nascimento, algumas pesquisas que indicam que gestantes negras recebem menos cuidado e atenção durante o pré-natal, trabalho de parto e pós-natal, e consequentemente, se a mãe está recebendo cuidados diferenciados, a criança também está.

E ser negro no Brasil é conviver com o que chamamos de ideal da brancura. O ideal da brancura concentra o branco como referencial de humanidade, de beleza, caráter e intelectualidade. Enquanto a negritude é rotulada com diversos estereótipos de inferiorização, animalização, subordinação, de feiura e sujeira. 

Dois exemplos deste ideal é o cabelo liso como referencial estético, enquanto o cabelo com curvatura e crespo é lido como duro, ruim e sujo. Ou ainda, quando o mesmo comportamento emitido por uma criança negra e uma branca, é entendido como “bagunça” da criança negra, e como “brincadeira” da criança branca. E a criança entende isso a partir de mensagens verbais e não verbais que elas recebem.  As mensagens verbais são aquelas nas quais as crianças ouvem coisas que a descaracterizam, como quando ela sofre bullying na escola ao ouvir sobre o seu cabelo e o seu corpo, ou recebendo apelidos pejorativos. E as mensagens não verbais, de quando a criança não entra em contato com referências negras positivas, ou recebem menos cuidados e atenção na escola, por exemplo. As crianças também entram em contato com isso através dos enredos dos desenhos, filmes, e histórias que apresentam sempre um personagem branco, que ocupa o lugar de princesa ou de herói, que no final da história é digno de receber toda as coisas boas, atenção e amor, enquanto os personagens negros, quando aparecem, são associados à estereótipos inferiorizante. 


Desde muito cedo então as crianças negras entendem que o outro grupo social possui privilégios e ocupa lugares que o seu grupo social não ocupa. E a  falta de referências negras positivas, pode levar a criança negra a idealizar uma identidade branca e uma negação do próprio corpo, já que ele se distancia disso que é valorizado socialmente.


 É importante afirmar que tanto as crianças negras, quanto as brancas captam essas mensagens, de modo a criar a ideia de superioridade para a criança branca, pois elas também entendem que o seu grupo racial possui privilégios.. 


Tudo isso influencia drasticamente na construção da identidade e da autoestima das crianças negras, que desde muito cedo internalizam as mensagens que inferioriza e desqualifica o seu grupo racial. A baixa autoestima, crises de identidade, sintomas emocionais, ansiedade, depressão, sensação de não pertencimento, crença de estar sempre errado, e a negação da negritude são resultados desse processo.  


Uma forma de reverter isso é inserir no cotidiano das crianças referências negras positivas, seja através de histórias verídicas de reis, rainhas, príncipes e princesas negras, fazendo um resgate à cultura, ou através de desenhos, filmes e livros. É fundamental também que os adultos enalteçam as belezas e competências intelectuais das crianças negras, o que pode ser feito através de elogios às suas características físicas e validação das atividades realizadas por elas. E por último, mas não menos importante, conscientizar as crianças de que não somos todos iguais, e de que não há problema algum nisso, promovendo um espaço que respeita as diferenças.


Essas medidas podem ser adotadas pelos cuidadores das crianças, como pais, irmãos, tios, etc., mas é fundamental que isso aconteça também na escola, afinal a criança passa boa parte do seu dia inserida no ambiente escolar. É fundamental então que a escola esteja atualizada às práticas antirracistas e com políticas de conscientização dos profissionais, pais e alunos.


É importante que os pais de crianças negras acompanhem às políticas escolares, busquem participar ativamente da vida escolar dos filhos e estejam atentos a qualquer violência racial que a criança possa sofrer. Caso isso aconteça, é fundamental primeiro o acolhimento dos sentimentos da criança, e posteriormente uma cobrança de posicionamento da escola.


Por fim, para formarmos crianças negras com autoestima e saúde mental, precisamos ensiná-las a amar as suas características, inseri-las na cultura e história negra, e afirmar constantemente as suas qualidades e potências, isso possibilitará que elas olhem a si mesmas e aos semelhantes com carinho e amor. . 

Eu me chamo Fernanda, sou psicóloga clínica na cidade de Maringá, e você pode conhecer mais do meu trabalho no meu instagram @fernandacaroline.psi


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